Mendigo é aquele que pede esmolas. Qualquer que seja o trocado (dinheiro) ou o que for doado é lucro. Não há uma taxa imposta normalmente, doa-se o que tiver, porque no caso, já está colaborando com o esmoleiro. No complexo mundo moderno mendigar pode ter uma taxa mínima e pode se tornar emprego; reflexo do sistema econômico que exclui as pessoas e que tem como forte aliado a falta de segurança do Estado para com os cidadãos: cria-se a violência.
O novo emprego de que estou falando é o de “Guardador de Carros” (ou “olhador de veículos”). Este emprego é fruto do sistema que acabo de mencionar no parágrafo acima: a evolução dos mendigos no capitalismo. A falta de segurança e a de impunidade para as pessoas juntamente com a falta de fiscalização pública aos atos ilegais pela cidade gera uma violência psicológica e faz com que você pague pela taxa estipulada pelo esmoleiro.
O “Guardador de Carros” é uma pessoa que se passa por um mendigo se apropriando do espaço público para “cuidar” de um bem de terceiro sem nenhuma garantia do serviço prestado. Ou seja, paga-se por um serviço que não se tem garantia se o terá, mas paga-se porque sofre de violência psicológica; essa é uma das várias tentativas de definições para tal atividade, a pessoa e o seu emprego de Guardador de Carros.
Assim, paga-se para olhar de um bem como se esse estivesse em perigo ou provavelmente sofreria algum dano material como se fosse cabível dizer: “eu vou olhar o que eu quiser e você terá que me pagar porque eu estou trabalhando” (como as nossas casas, com os motoqueiros pelos bairros). Logo estarei andando e alguém estará me vigiando: “eu estava te observando e fazendo a sua segurança, então, depois, deixe uma grana pra mim ‘chefe’, quando for embora”.
Assim, se apropria de espaço público privatizando-o por um período sem ter uma permissão da Administração Pública e sem pagar impostos. Além disso, cobra a taxa que acha conveniente para o evento como, por exemplo, boate R$ 5,00 e futebol R$ 10,00.
Assim, paga-se o IPVA, o licenciamento, o alarme e o seguro particular para ainda viver na insegurança de ter que se confrontar com um Guardador de Carros que te recebe em um tom ameaçador.
Como a Administração Pública aceita a ilegalidade, nesse caso e em vários outros, então ela deveria pelo menos legalizar essa atividade cadastrando e conhecendo essas pessoas. Pois, como já visto, a maioria tem passagem pela polícia e seria bom para todos que a Administração fizesse um trabalho social, incluindo essas pessoas novamente no mercado de trabalho. Ou outra alternativa também muito interessante é a da Economia do Equilíbrio: regulariza-se o serviço, contrata-se uma pessoa como um “agente da Área Azul” e o coloca para fazer o mesmo serviço do Guardador de Carros, cobrando uma taxa simbólica (aí será preciso colocar policiamento para fazer a segurança de todos e, principalmente, do agente). Essa taxa se reverteria para o salário desse agente, assim, temos algo regularizado, seguro, sem despesas para a Administração Pública. Além disso, como esse trabalho dará mais dinheiro do que o próprio salário fixo do agente, o que sobrar poderia ser revertido para um investimento do emprego e em bonificações aos policiais da base da região, por exemplo, da central.
Essa é uma discussão que já deveria ter sido feita, mas nos parece que é muito mais interessante pular o carnaval. Está na hora de parar de mostrar a cidade e começar a enxergar a cidade. Já tem muito tempo que Ribeirão Preto vive da propaganda e provavelmente vai continuar, visto o investimento de 5,9 milhões de reais. Comece lutando para abaixar o álcool; reorganizando a cidade para que todos possam se deslocar da maneira que quiser, de forma segura; reorganize os serviços prestados; faça a fiscalização funcionar, comece... e, voltando a temática, para eu assistir a um jogo no estádio do Botafogo preciso ir de carro porque não tem outro jeito de me deslocar até lá e a dor de cabeça já começa com os R$ 10,00 que eu preciso deixar para os “Guardadores de Carro” como se realmente fosse um serviço seguro. Assim, Copa do Mundo só chegaria aqui por pura propaganda, porque infra-estrutura adequada o município não tem para oferecer nem para os seus moradores. São coisas pequenas que fazem falta no nosso dia-a-dia.
André Barioni (texto publicado no jornal Enfoque Ribeirão, fevereiro de 2010).
Sou contra regularizar. Como questionei no Twitter, devemos pagar por um serviço que não pedimos por medo de danificarem algo que compramos?
ResponderExcluirDaqui a pouco vão querer regularizar bandido já que a segurança pública não dá conta de administrar isso tbm.
Mas idéias como o de agentes da área azul são bem-vindas. Trabalho honesto e nada de esmolas. Só temos que tomar cuidado com o que pedimos: onde serão 'instaladas' essas novas áreas azuis? Nós, motoristas, nos responsabilizaremos pela legalização de uma nova 'profissão'?