O ano é 2022, e vamos falar de uma
avenida centenária do nosso município. É a “Avenida Independência”, em Ribeirão
Preto, que aliás, merece mais atenção de todos, em especial da gestão
municipal. Para comemorar o centenário da Independência do Brasil foi
inaugurada em 1922 a Avenida “Nove de Julho”, mas com o nome de Avenida
Independência. O seu nome foi alterado em 1934 para Nove de Julho, em mais uma
homenagem, agora à Revolução Constitucionalista de 1932[1].
Nasceu pequena, mas percebam que com
grandes homenagens, pelo menos nos nomes. O seu trecho inicial compreendia a
área entre as ruas Tibiriçá e São José. Os estudos para o seu prolongamento
vieram em 1949. Junto, também vieram as Sibipirunas (40 árvores, nativas, Mata
Atlântica, de grande porte) e os paralelepípedos, pelo menos entre as ruas
Barão do Amazonas e Cerqueira César[2].
Durante a década de 1960 a avenida
abrigou algumas das principais mansões de propriedade da elite econômica da
cidade; posteriormente em função de sua posição privilegiada (vetor sul da
cidade) consolidou-se como um importante setor bancário. Em 1981 existiam 04
agências de bancos internacionais e nacionais instaladas na Avenida Nove de
Julho, já em 1987 existiam 12 agências, e no ano de 2000, 25 agências. <https://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/portal/arquivo-publico-historico/avenida-nove-de-julho>.
Ela continua famosa, linda e
charmosa, mas sua importância para a gestão municipal não está à altura. Tanto
que na modernização do traçado do transporte público ela não é nem citada. Pelo
menos a sociedade não está sabendo. O que temos anunciado por jornais é a
construção do primeiro túnel de Ribeirão Preto, passando por baixo da avenida
Nove de Julho, para ligar as avenidas Independência e Presidente Vargas. E veja
só, essa obra está parada por tempo indeterminado[3].
De uma das mais belas avenidas do
interior paulista, das principais mansões abrigando a elite cafeeira,
refletindo as influências da Belle Èpoque[4],
a ponto de encontro e a prostituição e lazer. Ainda cedo usa-se esta avenida
para caminhar, correr e fazer exercícios. Mas nada disso sobrou, nem mesmo a
prostituição, que se deslocou para o Boulevard.
De residencial a comercial. Entravam
em cena as fachadas e painéis luminosos que não duraram muito. Até recentemente
tinha sobrado um exemplar na Casa da Clube, mas que nem isso existe mais. Já foi
trocado. Se por um lado ainda resistem os bancos e farmácias, por outro os
laboratórios fazem dela um ponto de referência. Tem clube em uma ponta, a
sociedade Recreativa e de Esportes de Ribeirão Preto (RECRA), e no seu outro extremo,
um grande supermercado. Tem padaria, lojas, restaurantes, entre tantos outros
comércios. Mas também tem muitos imóveis parados, aguardando para serem alugados
ou vendidos. E está assim por estar abandonada! É um reflexo.
Dividida por uma obra parada, temos
duas histórias distintas para uma mesma avenida. Para um lado, paralelepípedos
malconservados, calçadas públicas do canteiro central (mosaico português) depreciadas
e um tráfego de veículos quase extinto. Este é o lado dos bancos. Tal situação
parece até proposital. Por sorte, a avenida é tombada e resiste ao recapeamento,
desejo de muitos por aqui[5].
Lembrando que paralelepípedo é muito melhor que asfalto, pois diminui a
velocidade, é mais ecológico, possui maior durabilidade, é mais resistente ao
tempo e favorece o escoamento da água, além de fácil manutenção, apesar de ouvirmos
o contrário da boca daqueles que querem arrancá-los. Para o outro lado, asfalto
esburacado a cada chuva, cheio de deformações provocadas por anos de
recapeamento de buracos e sem sinalização adequada para pedestres. E o
calçamento central, uma lástima. Talvez, a única coisa comparável em ambos os
lados.
Em 2012 divulguei matéria neste blog[6]
apontando a falta de sinalização na Avenida Nove de Julho e as dificuldades que
os pedestres tinham pela frente. Após 10 anos, retorno aqui para uma nova nota
para mostrar que aqueles problemas não foram resolvidos e, agora, pior, o
abandono é geral, daquela que já foi considerada um “cartão postal”. Vamos aos
detalhes.
A Figura 01 é um bom exemplo de falta
de sinalização, em especial para os pedestres. Não há faixas ou semáforos que
possam ser utilizados pelos pedestres. As folhas amarelas no chão são lindas, e
devem manter as árvores, mas estas flores viram um tapete escorregadio. Nessa
esquina, temos dois laboratórios atendendo muitas pessoas, em especial idosos.
Figura 01 - Cruzamento da Nove de Julho com a rua Vicente de
Carvalho
Fonte: Google Maps
Na Figura 02, a situação é idêntica à
anterior. Aqui temos um cruzamento com laboratório, hotel e agência bancária,
estabelecimentos que, pelos serviços que oferecem, atraem muitas pessoas. E certamente,
em algum momento, elas serão pedestres. Além disso, algo constatado já há algum
tempo, em nenhuma das duas figuras são mostradas lixeiras. São praticamente
inexistentes ao longo da avenida[7].
Devemos lembrar que o traçado urbano
muitas vezes é lembrando nos livros de história, porém aparece ligado a outros
fenômenos, como enchentes, casarões, homenagens, entre outros, mas não temos
uma descrição dos planos de circulação e mobilidade. São raros os mapas, mesmo
sabendo que Ribeirão Preto sempre foi um município importante: moradia dos
barões do café, Califórnia brasileira e hoje, a capital do agronegócio, só para
citar alguns rótulos famosos por sua economia.
Figura 02 - Cruzamento da Nove de Julho com a rua Guimarães Passos
Fonte: Google Maps
Tudo bem que esta preocupação com o
traçado urbano veio em tempos recentes, com ênfase dada pela última
constituição. Contudo, ainda hoje não vemos uma descrição quando o assunto é o
futuro das cidades. São vários debates realizados, organizados tanto pelo setor
privado quanto pelo público e ficam sempre nos assuntos tradicionais,
políticos: educação, turismo, economia, segurança etc. Não que não sejam
importantes, mas a mobilidade urbana precisa integrar todos estes assuntos.
Hoje Ribeirão Preto é um canteiro de obras, tudo isso para trazer a “modernidade”
de faixas exclusivas ou prioritárias para ônibus? Acho que os prefeitos do
começo do século XX tinham visões mais progressistas. Tínhamos que falar hoje em
VLT (Veículo Leve sobre Trilho).
Mas não, vamos continuar priorizando
o automóvel. Por isso, as Figura 03 e 04 são simbólicas, da obra do primeiro
túnel de Ribeirão Preto. Cidade moderna por aqui é formada por túneis,
viadutos, pistas largas e semáforos para os automóveis, enquanto mundo afora é
formada por ciclovias e ciclofaixas, arborização urbana, integração do
transporte coletivo elétrico e investimento pesado no uso dos veículos não
motorizados.
Figura 03 – Obra de túnel paralisada,
dividindo a Avenida Nove de Julho
Figura 04 – Obra de túnel paralisada
em Ribeirão Preto
Fonte: https://bit.ly/3FtEjjx
Nas figuras seguintes, verifica-se um
pouco daquilo que já foi mencionado aqui. O descaso com o conserto dos
paralelepípedos para a sociedade, no futuro, apoiar a troca deste tipo de
pavimento por asfalto. As folhas amarelas das Sibipirunas que deixam o chão
escorregadio e perigoso. A falta de sinalização para pedestres e de lixeiras deste
lado da avenida. E um quarteirão de imóveis fechados muito provavelmente por
conta deste abandono. O que sobrevive aí desempenha um papel de atração de
consumidores de outros lugares, como bancos, restaurantes (alguns fastfoods) e laboratórios
ou dependem dos estabelecimentos que empregam ou movimentam muitas pessoas,
como é o caso da RECRA, da Diretoria Regional de Ensino, das escolas e dos hospitais.
Figura 05 – Pavimento desnivelado na
Avenida Nove de Julho
https://www.marcospapa.com.br/wp-content/uploads/2018/08/9-de-julho-Revide.jpeg
Figura 06 - Pavimento desnivelado
cria poças d’água que podem espirrar nos pedestres
https://emc.acidadeon.com/dbimagens/nove_de_1200x675_01122021171056.jpg
Figura 07 – Folhas das Sibipirunas
que se acumulam no chão
https://media-cdn.tripadvisor.com/media/photo-s/0a/b4/41/78/dsc-0008-2-largejpg.jpg
Figura 08 – Avenida Nove de Julho sem
sinalização para pedestres
https://mapio.net/images-p/21960220.jpg
Figura 09 – Estabelecimentos fechados
para alugar
Fonte: Google Maps.
[1]
https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/monumentos-revelam-curiosidades-dos-161-anos-de-ribeirao-preto.ghtml
[3]
https://www.acidadeon.com/ribeiraopreto/cotidiano/cidades/NOT,0,0,1619496,Obra-de-tunel-em-Ribeirao-esta-parada-por-tempo-indeterminado.aspx
[4]
PINHEIRO, Murilo. Ribeirão Preto 2000. Ribeirão Preto: MIC Editorial Ltda.
2000.