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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

CONCESSÃO DO SERVIÇO DE TRANSPORTE COLETIVO DE RIB. PRETO

     É importante ter audiências públicas, mas acredito que elas não tinham o objetivo de serem audiências, mas propaganda de um transporte público de qualidade, onde as pessoas reconheceram essa qualidade, que sabemos não existir na prática, pela teoria. Esse é um ponto de vista particular, com caráter científico, sem qualquer tipo de injuria. É preciso respeitar, antes de tudo, o que foi dito e mostrado, como fiz nas audiências. Afinal, a opinião pública foi feita, foi divulgada, contudo sem a averiguação da metodologia, que não foi apresentada em hipótese alguma. Joga-se apenas o resultado.
     Ora, enviei nota para esclarecer contradições. Por um lado quer que acreditemos na pesquisa sobre o transporte público, de opinião pública, por outro, e utilizando a mesma metodologia, não quer que acreditemos na opinião pública quando essa determinou que a rodoviária de Ribeirão Preto é a melhor do país.
     Assim, enviei nota para o jornal A Cidade sobre essa contradição. O jornal disponibiliza espaço para que os leitores possam se expressar, não livremente, mas a partir de uma avaliação do que pode ou não ser publicado. A minha nota intitulada Política de Mobilidade era a seguinte: como pode a Vox Populi (empresa que pesquisou as rodoviárias) estar errada e a Oficina Consultores (empresa que pesquisou o transporte público) estar correta? Talvez o Recruta Zero (03/02/2011) tenha razão quando disse ser preciso definir as coisas; ora, o resultado de uma pesquisa qualitativa depende muito do que se avalia e como se faz as perguntas. Na minha pesquisa (dissertação de mestrado), por exemplo, a tendência é negativa para vários aspectos citados na audiência pública, na última terça-feira, ou seja, o resultado é contrário daquilo que foi exposto, e nem por isso eu fiz alardes. O problema do transporte público de Ribeirão Preto não está nos aspectos qualitativos, de acordo com uma avaliação de qualidade baseada na opinião pública dos usuários, como fiz no meu trabalho, baseado no modelo de Ferraz e Torres (2001). A pesquisa serviu apenas para mostrar que o transporte público precisará melhorar muito para atrair novos usuários, espontaneamente ou forçoso (de forma legal), se precisar. Mas, para isso acontecer, é preciso ter qualidade. O problema é que transporte público é, antes de tudo, uma atividade política - retirado de: mobilidadeurbanarp.blogspot.com – e, assim, também é a mobilidade, uma questão política. Enquanto for discurso, nada será mudado.
     Essa nota não foi publicada e nada foi dito para esclarecer tal atitude do jornal.
     Participei de duas audiências. Nelas, as sugestões foram gerais, simplórias, sem qualquer tipo de classificação para um verdadeiro debate. Debate que não existiu, pois ninguém foi lá com esse interesse, nem a Administração, e muito menos a população. Também, cada audiência durou cerca de três horas, uma de cumprimentos truanescos, uma de apresentação e uma última de leitura das sugestões/reclamações e abertura para opinião (opinião com controle de três minutos para cada pessoa – portanto, duas horas para a Administração e três minutos para o cidadão – audiência “pública”). Quase não tinham moradores usuários do transporte público. Esses estavam representados pelos “políticos de plantão” e representantes de bairros que tem interesse político e, na sua maioria, para a política. Assim, cada um precisava falar, não importa o que for, tem que falar!
     Nessa fala o que se percebeu é que ninguém ali, de fato, entendia de transporte e de trânsito e, dessa forma, a as duas audiências foram tranquilas. Ou seja, podia se falar dos problemas do transporte público, operado pelas permissionárias (como se a TRANSERP não tivesse responsabilidade por elas, por serem empresas privadas), contudo, ao falar da TRANSERP o cidadão era abafado. Qualquer discussão sobre transporte público passa, também, pelo órgão gestor, que tem as suas responsabilidades. Claro que, de fato, é preciso identificar a iniciativa da atual gestão, contudo o cidadão tem o direito de avaliar o órgão na sua história, de quase trinta anos. Nesses trinta anos quase não se mudou o sistema de linhas, apenas alterou-se aspectos exteriores a operação. Não que eles não sejam importantes, mas o sistema de circulação é o que realmente propicia o deslocamento da pessoa e é o que não vem funcionando mais em Ribeirão Preto, já algum tempo. Bilhetagem, abrigos, ônibus adaptados, gerenciamento da frota são ações importantes que melhoram a qualidade do transporte público, mas estão longe de ser ações para a base, o alicerce do transporte público.
     Como pode fazer propaganda de quantidade de ônibus adaptados em audiência pública? A senhora deficiente, coitada, fica sem saber o que dizer (pois, agora, já são 85 ônibus adaptados). Ou adaptasse agora, e aos poucos, ou faz isso com todos depois, e aí o preço é bem mais alto. É Lei Federal – todos os transportes públicos devem estar adaptados até 2014. Não é uma conquista, é uma exigência. Mas como a coitada vai ter argumento se não conhece a lei?
     Por fim, para encerrar esse longo texto, em nenhuma das duas horas foi discutido a questão das letras, por exemplo, evidenciando assim o desconhecimento ou o não uso da integração. Ora, sabemos que a integração de Ribeirão Preto é, no seu todo, errada - mas o usuário não percebe. Ela não é uma integração temporal, mas uma integração limitada a uma única mudança de veículo (transbordo), desde que seja para uma diferente linhas/letra, dentro de duas horas (cotando o tempo da sua primeira viagem, ou seja, você não tem duas horas). Além disso, sabemos que nada do que foi dito vai ser cumprido ou colocado em prática, pois foi contratada uma empresa para fazer um projeto e um edital de licitação. Esse projeto, de técnicos, com base técnica, seguirá aquilo que for melhor para a Prefeitura. E, o que é melhor nesse momento - licitar o transporte público rapidamente. Assim, é a questão econômica que vai estar em discussão.
     Esqueça o Plano de Mobilidade. Ele vai até existir, mas será como o Plano Diretor, plano que não abrange os planos urbanísticos do município, plano tradicional, taxado como desconhecido, ou, conhecido, mais não compreendido. Portanto, ao ser desconhecido não será seguido nas suas orientações pelos próprios servidores públicos.
     Ficou nítido que ainda não se associa trânsito e transporte com planejamento urbano em Ribeirão Preto. E, por esse motivo, não foi dito nada sobre Mobilidade Urbana nesse texto. Porque não foi dito nada nas audiências.

     Agora, aguardo o material mostrado na audiência e o seu relatório final, pedido por duas vezes, através da carta de sugestões. Pergunto: vou conseguir esse material, que é público? Vou esperar. Como estou aguardando um contato da TRANSERP até hoje.

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