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terça-feira, 23 de março de 2010

DISCUTINDO O LISTÃO DOS MORADORES (parte I)

Uma lista de “idéias” foi feita por 40 moradores na audiência pública restrita da Comissão Especial de Estudos de Trânsito, de Ribeirão Preto-SP. No total foram feitas 58 reivindicações, segundo o jornal A Cidade (12/03/2010).

Dentre as idéias, algumas são reivindicações de problemas localizados que na verdade não podem ser chamadas de idéias porque são reclamações costumeiras de moradores motoristas, na sua maioria. Como exemplo, temos as reivindicações “não deixar os radares sozinhos, os marronzinhos devem trabalhar em dupla”, “buraco, Dino Martinelli X Carvalho Pereira – Simioni” e “Muitos ponto de embarque e desembarque no Centro”. Assim, sobram 45 idéias “efetivas”.

Ao chamar os moradores de motoristas não faço alegremente, pois da premissa que do total das reivindicações 32 são feitas para melhorar o trânsito para o automóvel enquanto que o transporte público se contenta com 13 propostas, consideradas positivas para o trânsito, mas pensando no trânsito para o automóvel e não para o usuário do transporte público. Se fosse para os usuários, as reivindicações cairiam para seis propostas.

Por este motivo, as discussões sobre Mobilidade Urbana não podem ser feitas por moradores. Propostas devem ser apresentadas por especialistas de trânsito e de transporte e, posteriormente, analisadas pelos moradores; E, mesmo assim, haverá conflitos, já que vivemos na “cultura do automóvel”, como demonstrado no parágrafo precedente.

Em entrevista ao Instituto de Mobilidade, em 2007, Paula Teles nos chamou a atenção por nos familiarizar pela mesma situação aqui no nosso município, sobre o planejamento urbano e sobre planejamento de trânsito e transporte feito como um conjunto. A portuguesa diz:

Uma das questões que mais me incomoda, quando me pedem para dar algum contributo para a melhoria da mobilidade de algumas cidades, é quando vejo que não há, propriamente, um problema isolado de tráfego ou mobilidade, mas um problema claro de crescimento urbano completamente desajustado, com total ignorância de infra-estruturas que a cidade poderia aproveitar. Às vezes, digo mesmo que a cidade anda a crescer ao contrário... A ausência da gestão integrada da mobilidade urbana é outra das vertentes do problema. Continuamos a ter as cidades como medidas de tráfego avulso, casuísticas e fragmentadas, sem qualquer noção de globalidade de cidade e dos seus novos desígnios. Costumo dizer que a mobilidade em Portugal ainda é conversa de café, em que, à semelhança do futebol, todos têm opinião e, muitas vezes, com repercussões práticas a este nível (TELES, p.s/n, 2007).

Veja que a sua realidade é Portugal, mas não nos parece comum? Só para reforçar que vivemos uma cultura do automóvel, para os pedestres e os ciclistas foram feitas, juntos, sete reivindicações e para a motocicleta três apenas, considerando a idéia da “campanha para convivência de motos, automóveis e pedestres”, ficando de fora o transporte público a bicicleta e os demais meios que circulam por nossas vias. Além disso, as questões sobre acessibilidade e mobilidade sustentável não foram mencionadas em nenhum ponto das 58 reivindicações.

Outro fato que nos chamou atenção nessa analise geral do listão foi à quantidade de pontos negativos para determinados veículos. “Muito ponto de embarque e desembarque no Centro” é um dos vários exemplos desses pontos. Na verdade a área central do município possui poucas paradas de ônibus, deveria ter mais. A área central é antiga e as vias são estreitas, portanto, não deve ser usado como passagem, cruzamento de um lado para o outro da cidade. É um espaço reservado principalmente para o pedestre, aquele que geralmente utiliza-se do transporte público. Na realidade, países desenvolvidos dificultam os acessos por automóveis nas áreas centrais. “Regras de trânsito e punição para ciclistas, emplacamento e identificação de ciclistas, farol à noite (previsto no CTB – Código de Trânsito Brasileiro, mas aguardando regulamentação)”, como se os ciclistas fossem responsáveis por seus atropelamentos, em uma cidade que não possui ciclovias. Antes de uma cobrança é preciso investir nos ciclistas, permitir que ele faça parte da mobilidade urbana. Este é um ponto preconceituoso que poderia ser trabalhado por todas as vertentes, econômicas, sociais, culturais e da geográfica. Esse ponto demonstra que o trânsito e os acidentes acontecem por culpa dos ciclistas e, então, é preciso tirá-los do caminho dos automóveis.

Desse modo, paramos por aqui. Vou comentar as poucas reivindicações que são mais complexas na parte II porque muitas delas são besteiróis e não servem para melhorar o trânsito e proporcionar mobilidade urbana. Como foi visto, são besteiróis que propiciam o continuo uso desenfreado dos automóveis, modelo que, sabemos ser insustentável porque tem limites, por exemplo, com os congestionamentos. Só falta dizer que os congestionamentos são causados pelos ônibus!? Aí vai virar piada.

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